Os Sete Pilares do Bouldering. II Exploração.

Abril 14, 2011

II. Exploração. Calcedónia a Última Fronteira.

O segundo dos “Sete Pilares do Bouldering” é sem dúvida um dos mais importantes. Sem exploração e consequente desenvolvimento das áreas descobertas não existiria o bouldering propriamente dito.

Explorar exige visão, visão exige experiencia e experiencia exige escalar muito em rocha. Exige espíritos inquietos, mentes desassossegadas e ter a sorte de existir muito para descobrir. Portugal pode não ter a rocha de Hueco, as montanhas de Bishop ou a floresta de Font, mas existem potenciais zonas de bloco por todo o lado especialmente da Serra da Estrela para cima.

Explorar pode ser viciante também, podemos cair na voragem da descoberta pela descoberta, um pouco como uma refeição “all you can eat”, demasiada fartura estraga o prazer de comer. Encontrar o equilíbrio entre exploração e desenvolvimento faz aparecerem as grandes zonas de bloco.

Para um explorador a visão é o mais importante, conforme o seu grau de habilidade pode ou ver de mais ou não ver absolutamente nada. Exemplos? Dizia-se que a rocha de Vale de Poios era toda podre. Dizia-se que Sintra eram os Capuchos, a Peninha e pouco mais. Hoje são frases hilariantes, é sempre preciso a pessoa certa no lugar certo e talvez na altura certa porque: o que procura só encontra aquilo que quer ver.

Esta situação, aqui retratada, começa como mais gosto: com uma dica. As dicas são fantásticas. Existem vários níveis conforme a sua origem, desde pessoas que não fazem a mínima ideia do que é a escalada, geralmente valem muito pouco, até de escaladores mais veteranos ou reformados, geralmente valem ouro. Nenhuma se deve negligenciar. Assim, existem dicas de pastores, geralmente alucinadas. Dicas de espeleólogos, profundas. Dicas de blocadores para desportivos, vias mitradas. Dicas de desportivos para blocadores, higballs irrealizáveis. Dicas de pescadores, exageradas. Dicas de ciclistas, rápidas e desfocadas. Dicas de treckers, contemplativas. Mas, para um explorador todas são importantes e todas merecem atenção, e uma vez à solta, a dica instala-se no fundo da mente e por ali fica. Quanto mais tempo passa mais ela germina, alimentada pela imaginação, geralmente delirante, que a criatura possui. Desenham-se no ar pranchas a 45º cobertas de régletes sólidas como ferro, falésias de 30 metras repletas de chorreiras e bidedos perfeitos, fissuras de fazer empalidecer Canyonlands, paredes maiores que a Grande Torre do Trango. O Embate com a realidade é em 95% dos casos um balde de água fria, aí em 4% dos casos revela-se proveitosa e em 1%, ou talvez menos, dos casos é melhor que a realidade. Este foi o feliz caso, por exemplo, deste bloco na Calcedónia.

Este segmento é dedicado a todos os exploradores inquietos que por aí andam, verdadeiros motores da escalada.

Depois da Páscoa o terceiro capítulo: III. Força. O Labirinto dos Enganos. SM