Enigma, a Máquina

Dezembro 30, 2009

Enigma, decifrando a saída. Escalador: Júlio Braga; Fotos: Oldemiro Lima.

Um Verão de treino específico, dezenas de tentativas para…um passo. É qualquer coisa.  

Um escalador, quando criativo, é um caçador de linhas. Sempre à procura de pedaços de rocha novos onde aplicar a sua imaginação. Quanto mais escala, mais vê. Quanto mais “abre”, mais educa o seu olhar. Já não vê, sonha acordado.  

Prisioneiro de uma busca incessante. Muitas vezes é essa busca que o define, outras, é o objecto da própria busca. Então, em raras ocasiões, aparece uma via que funciona como o espelho perfeito do escalador.  

Este bloco, o Enigma, acaba por ser esse Bloco para o Júlio Braga: complexo, extremamente poderoso e exposto. Exigindo, desde o início, uma determinação e resiliência fora do comum: descobrir os movimentos, experimentar, falhar, treinar especificamente, tudo isto ao longo de meses.  

Acaba de ser encadeado na versão drop off (V13 cs). E o processo começa de novo, para enfrentar a continuação, desta vez associando a dificuldade pura à exposição.  

Mas, o que é o Enigma?  

Um muro de 30º. Um arranque sentado a duas mãos numa réglete diagonal, leva a outra réglete que se apanha com a ponta dos dedos em extensão e aí, devido ao posicionamento das presas, o corpo começa a torcer. É necessário dominar essa torção ao mesmo tempo que a mão passa de extensão para arqueio. Este é o famoso movimento. Mas ainda faltam mais 12 pelo menos. A mão esquerda passa para uma inexistência, para equilibrar e toca a blocar mais uma lâminas até umas boas régletes que marcam o meio do bloco e servem de drop off para a primeira versão em V13. O resto é um bloco por si só e está em trabalho ou decifração, ainda. Alto e exposto, apresenta um final digno do começo, isto é, não dá tréguas até ao puxador final.  

Acabamos o ano a falar de um projecto. Meio feito, meio por fazer. Meio em 2009, meio em 2010? Não se sabe. Nunca se sabe. Mas, nada como fazer a transição com um monte de projectos às costas. Os que estão longe, tão longe que não se vê luz ao fim do túnel e aqueles que estão perto, tão perto, que quase ficaram feitos. Bom 2010.